A história do pianista mais famoso do Brasil é conhecida: nascido no Ceará, recebeu uma educação musical rotineira, o suficiente para não gostar da música. Só mais tarde indo ao cinema por acaso ouviu como música de fundo o concerto número 2 de Rachmaninov. E aí largou tudo, voltou a estudar piano. Jacques foi estudar em Viena - Austria, e após dois anos de estudos ganhou o primeiro prêmio do Concurso Internacional de Genebra. Porém, Jacques sentia um forte apelo pelas formas populares de expresão musical como o jazz.
Não era masoquista nem apressado: deixou que a música fecundasse nele, o instrumentista perfeito que soube escolher por eliminação os seus caminhos. Jacques condenava o estusiasmo pela música barroca, considerando-a excelente "para descançar". Descançar de que? Da verdadeira música que ele cada vez mais sentia o sombrio território dos sons -metalinguagem do homem. O rapaz cearense tornou-se conhecido pelo repertório de circunstância, mas para si mesmo reservava o melhor: não foi à toa que, nos últimos anos, mais e mais ele se voltava para a música de câmara.
E foi assim uma verdadeira carreira, mais do que de sucesso, que lhe vinha sempre porque entre outras coisas tinha feeling do artista popular. Sabia quando atingia aquele ponto que incendiava a platéia. Foi assim que formou com Salvatore Accardo um duo que rodou o mundo, não era mais o Klein do Concerto nº 1 de Tchaikovski, nem mesmo o Jacques Klein do repertório pianístico tradicional: era o músico de câmara que sabia o que deixara para trás, que soubera escolher a melhor parte. Estranhamente - é o que todos se perguntam agora - não deixou quase nada gravado. Comercialmente, apenas um disco com as duas peças que o marcaram nas platéias mais heterogêneas: Tchaikovski e Rachmaninov.
Ele próprio e alguns amigos mais íntimos guardavam fitas com alguns de seus concertos . Jacques Klein não acreditava no sucesso. Temporalmente, ele conseguira tudo o que desejara, mas sabia que a música, tal qual ele a amava, não podia ser patrimônio genérico, de todos. Nunca recusou tocar em concertos de massa, desses que acreditam na ampliação dos clássicos. Ele sabia que a abertura 1812, a protofonia do Guarani, o própio Concerto nº 1 de Tchaikovski poderiam encher dois, tres programas básicos, mas não preparariam a massa para os degraus de cima. Ele jamais deixaria de tocar para multidões que se reuniam ao ar livre. Klein, tinha da música, um sentimento íntimo para grandes platéias. Grande amigo de Isaac Karabtchewsky conversavam muito sobre esse assunto e jamais chegariam a um acordo. Com a doença, exacerbou nele, a grande descoberta da música, o seu compromisso de artista e a sua trajetória de homem. De Jacques Klein para cá surgiu uma geração de novos intérpretes que ganharam o mundo: Nélson Freire, Roberto Szidon, Artur Moreira Lima. Como intérprete do piano, foi dos mais dedicados. E, ao sentir a proximidade do fim, foi no sombrio universo da música que ele buscou a coragem e a força para sua realização de homem - acima e além da sua circunstância de artista. Jacques Klein Faleceu no dia 6 de novembro de 1982.
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