Canto rústico do aboiador e dos árabes ou de um cego de feira tocando sua rabeca são influências desse trabalho de Alceu Valença, que rompeu com o 'esquema' implantado no mercado. Este é o primeiro disco dele para a gravadora Biscoito Fino, e o pernambucano revisita suas fontes e diversidades poéticas esquecidas. Alceu Valença,63, e 35 de carreira se valeu de suas várias etnias como inspirações para 'Ciranda Mourisca" onde reverencia suas matrizes do regional pernambucano, blues e rock. É um disco maravilhoso do bardo pernambucano com canções bem alinhavadas e cantadas. Nesse novo trabalho ele resgata boa parte do material deixado de lado nos discos dos anos 80, como 'Cinco Sentidos'1981, 'Anjo Avesso', 1983 e Estação da Luz', 1985.
"Ciranda Mourisca" é uma espécie de lado 'C' do cantor e tem músicas maravilhosas como 'Amor que Vai', 'Sino de Ouro', Loa Lisboa, quando de sua passagem por Portugal, onde se mostra 'embriagado' com a capital portuguesa. Outras releituras que soam muito bem: 'Dente de Oriente', 'Mensageira dos Anjos' e 'Dia Branco', ambas do disco de 1974.
É mais um trabalho com a marca de Alceu Valença, onde as letras ganham asas nas e entonações pausas certinhas. Bem cantado em todas as faixas - destaques para 'Ciranda Mourisca', 'Maracajá', 'Chuva de Cajus' e 'Loa Lisboa', onde faz referencias aos poetas como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Fernando Pessoa. Alceu volta-se de forma quase integral às cirandas e prioriza instrumentos harmônicos não originalmente no gênero, e comete mais uma obra de arte musical. "Busquei uma harmonização instrumental leve, com violas que remetem à música moura, ao Nordeste Ibérico. Cirandas são aboios litorâneos, é música de beira de praia”, diz o compositor.
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