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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tuma foi o primeiro a denunciar Herzog


" A ata existe mas não sou culpado pelo destino de Herzog" , diz o senador Romeu Tuma.
O hoje senador Romeu Tuma (PFL-SP), à época chefe do serviço de informações do Departamento de Ordem Política, Econômica e Social (Deops), da Secretaria de Segurança de São Paulo, foi a primeira autoridade do regime militar a denunciar o jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura paulista. A revelação consta da ata de uma reunião da comunidade de informações, localizada no Arquivo do Estado de São Paulo e consta no livro 'Meu querido Vlado', do jornalista Paulo Markun, preso com Herzog. O livro foi lançado em 9 de novembro de 2005. O senador Romeu Tuma confirmou ao Estado a existência da ata, mas disse não aceitar ser responsabilizado pelo destino de Herzog, o assassinato ele quis dizer. Tuma alega ter cumprido a sua atribuição à época - repassar informações que identificassem focos de subversão ao regime: 'Há uma distância oceânica entre isso e o que aconteceu com o jornalista Vladimir Herzog', disse. Alegou que foi ele quem preservou a documentação do Deops, entregando-a ao governo paulista.

A ata, cujo fac-símile é mostrado no livro, reporta uma reunião em 10 de setembro de 1975, 45 dias antes da prisão e morte de Herzog pelo DOI-Codi paulista. Na reunião, Tuma disse: 'Que o canal 2, através de seu departamento de jornalismo, está fazendo uma campanha sistemática contra as instituições democráticas e esse fato foi notado após ter assumido a direção daquele departamento o jornalista Wladimir (sic) Herzog, elemento sabidamente comprometido. Na biografia que mantém em seu site pessoal, o senador omite o cargo de chefe do serviço de informações e a posterior chefia do Deops. Segundo o livro, os ataques a Herzog como diretor de jornalismo da TV Cultura, iniciados imediatamente após sua contratação, ganharam lógica e foram reforçados pela denúncia de Tuma. Antes de contratar Herzog, o então secretário de Cultura José Mindlin consultara o chefe do escritório do Serviço Nacional de Informações (SNI) em São Paulo, coronel Paiva, que deu o 'nada consta'. 'Há uma distância oceânica entre a ata e o que aconteceu com Herzog', diz Tuma. No dia em que Herzog começou a trabalhar, 4 de setembro de 1975, um editor antigo pôs no ar uma matéria sobre Ho Chi Min, líder do Vietnã do Norte, visto como poderoso símbolo comunista. Surpreendido, Herzog mandou suprimir a matéria do jornal da noite e demitiu o editor que a programou à tarde.


No dia seguinte, 5 de setembro, a matéria foi denunciada por Cláudio Marques, notório simpatizante do regime militar, que escrevia uma coluna no jornal Shopping News. A partir de uma sucessão de movimentos de bastidores e publicações em jornais que apoiavam a repressão, foi articulada uma escalada contra a nova direção de jornalismo da TV Cultura. No dia 7, Marques publicou outra nota, bem mais provocativa, vinculando a direção de jornalismo da Cultura ao PCB. A denúncia de Tuma veio na esteira, no dia 10. Numa das reuniões habituais da comunidade de informações para coletar e avaliar denúncias, o delegado mencionou a contratação de Herzog e o acusou de ser um 'elemento comprometido'. Como última etapa da escalada, as prisões começaram a acontecer no dia 29 de setembro, quando foi detido José Montenegro de Lima, que fazia o contato da base dos jornalistas com o PCB e morreria, a seguir, durante o interrogatório, assassinado com uma injeção para sacrificar cavalos. Em 24 de outubro, Herzog foi procurado na TV Cultura por uma equipe do DOI-Codi, que acabou concordando com sua apresentação no dia seguinte, quando prestaria depoimento. Herzog se apresentou na manhã do dia 25 e horas depois estava morto. O regime militar insistiu na versão de que ele teria se suicidado, mas em 1978 a Justiça condenou o Estado brasileiro a pagar indenização por sua morte à viúva Clarice Herzog.

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