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quinta-feira, 20 de abril de 2017

“Joaquim”, de Marcelo Gomes, estreia

Filme do pernambucano Marcelo Gomes, que representou o Brasil na competição oficial do mais recente Festival de Berlim, foge do didatismo e uma sensação de estranheza poderá percorrer o espectador de “Joaquim”. 
Ator Júlio Machado na pele de Tiradentes

Não é bem uma do famoso líder da Inconfidência, Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792). A película dá-se ao luxo de ignorar alguns preâmbulos informativos ou até mesmo vincular estritamente o personagem aos fatos mais conhecidos de sua vida – embora fique clara esta ligação a partir da narração em off com que o fantasma do protagonista abre a história.

Joaquim” toma posição, declaradamente, como uma crônica de época, procurando no Brasil de traços incertos do século 18 as pistas para um desenvolvimento desequilibrado e as profundas desigualdades sociais que, desde então, assolam a nação.

Desta forma, Joaquim vivido por Julio Machado é apresentado como o devotado alferes a serviço da Coroa portuguesa, encarregado de caçar contrabandistas de ouro pelos caminhos inóspitos do sertão mineiro. Sonha com uma promoção a tenente, que lhe permitiria realizar o sonho de comprar a escrava Preta, papel de Isabél Zuaa, por quem é apaixonado.

Empenhado num naturalismo profundo, o filme não poupa detalhes desta vida nos rudes trópicos, em que a rotina do trabalho do próprio Joaquim é levada no lombo de burros, no meio da mata fechada, do calor, dos mosquitos e da falta de condições de higiene.  Tudo isso é traduzido com mais contundência no segmento em que o alferes é encarregado pelos superiores de buscar ouro no chamado Sertão Proibido, local dos mais inóspitos e que foi filmado nos arredores de Diamantina, Minas Gerais. 

Finalmente, o  filme constitui uma fantasia histórica que tem os olhos voltados para uma reflexão sobre o presente, projetando em seus sinais os sintomas do mal-estar contemporâneo do país. ( Francisco Martins ). 

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