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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Darel na BM&F

Pernambucano de Palmares, Darel Valença Lins é o que se pode chamar um homem das artes. Gravador, ilustrador, pintor e professor.

Apropriando-se das mais diversas técnicas de pintura – gravura em metal, litografia, desenho e digigrafia –, desenhou sua arte de um modo particular: misturou a beleza das coisas com o pesadelo humano, o preto com o branco, a cidade com seus homens, o detalhe das cores com o monocromado do todo. Tudo de um modo sutil, usando a linguagem do traço fino, da brincadeira no olhar, das sensações que as cores proporcionam. Lúdico é descobrir a mulher dentro da máquina. Ou a máquina que envolve a mulher. Porque para o artista, como dito por ele mesmo, “é a cor que muda as sensações e o clima do acontecimento. Pode atribuir um clima dramático ou poético ou sombrio”.

E sua arte tem um pouco dessas sensações únicas: o mestre Darel Valença pintou as mulheres e desenhou seus corpos; misturou o anjo com as máquinas; a multidão e as cidades – coisas que só a dança do olhar descobre. Ilustrou, também, as edições de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida, e Poranduba Amazonense, de Barbosa Rodrigues. Como definir, então, esse artista plural, ora polivalente, muitas vezes multifacetado, mas de certo modo particular? Nós, do Espaço Cultural BM&F, escolhemos chamá-lo de um artista “fora de série” e homenageá-lo desde já com esta mostra. Até 4 de julho de 2008, o público poderá apreciar cerca de 50 obras do artista, entre elas Mulher da Máquina, Demolição, O Anjo e a Máquina, Ela em Amarelo, Tríptico e Praça 78. O que faz Darel ser fora de série é conseguir, em seus trabalhos, transformar cada obra em um grande mistério, que a escritora brasileira Clarice Lispector chamou de “o grande mistério de viver”. Na arte de Darel também há vida; há sonhos e ideais, há muita luz e cor. Como ele consegue transformar tudo em arte? É de novo a poetisa que nos dá a pista: “Darel vive seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades senão o próprio Darel que sonha e idealiza? Em Darel, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano em sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras em que uma ou outra janela de luz acesa atesta que elas são habitadas”, registra Clarice Lispector no álbum de gravuras editado por Júlio Pacello. Suas obras serão, elas próprias, essa janela de luz, que levará os visitantes para além da São Paulo cotidiana, como investigadores em busca Catalogo.indd 5 30/4/2008 12:23:35 6 de pistas, estas escondidas em cada obra, como normalmente estão também escondidas na rotina da cidade. O recorte da exposição feito pelo curador Antonio Carlos Abdalla proporciona ao público desvendar o artista plural em que Darel se transformou ao longo de sua carreira. Esta exposição é um convite ao conhecimento de algo que é artístico, novo, mas também real. Cada uma de suas obras pode ser um momento lúdico, um sonho ou a transformação dos pensamentos em algo sólido e palpável. Depende do modo que o público quer vê-lo e senti-lo. Um fio condutor? Seguir o roteiro indicado pelo próprio artista: partir de um único ponto, o desconhecido, pois é daí que a arte se transforma; que a cidade se modifica, que o homem se recria. Fora de série, na arte e no modo de fazer arte, Darel nos convida a viajar particularmente em cada um dos mundos que criou. Boa viagem a todos nós.
Manoel Felix Cintra Neto
Presidente do Conselho de Administração

Darel na BM&F
De 6 de maio a 4 de julho - entrada gratuita
Praça Antônio Prado, 48 - centro São Paulo
Visitas monitoradas: [11] 3119-2404

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