Páginas

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Francisco de Paula Brito: 200 anos


Exposição conta trajetória do primeiro grande editor do Brasil, Francisco de Paula Brito, um negro que se tornou o editor preferido da elite carioca. Sem ele a imprensa e a literatura brasileira não seriam as mesmas.


Brito foi um grande empreendedor que se transformou precursor da imprensa e do mercado literário no país. A historiografia registra que o tipógrafo lusitano Isidoro da Fonseca trouxe o primeiro prelo ao Brasil, Rio de Janeiro, em 1747. Depois a Imprensa Régia em 1808. Contrariando a todos, o comerciante lisboeta Antônio instalou uma tipografia em Salvador, BA, em 1811. O francês Pierre René François Plancher de la Noé, usando o título Impressor Real, colocou a constituição do Brasil império no papel e fundou o Jornal do Commércio. Todos antecederam Francisco de Paula Brito, entretanto, nenhum deles contribuiu de forma definitiva para formação e desenvolvimento da imprensa e literatura do Brasil. Sua loja Tipografia Fluminense de Brito & Cia atuava como uma fábrica de pasquins pois muitos recorriam a seu trabalho para ter seus jornais impressos. Em suas gráficas rodava jornais e pasquins, promovia a discussão sobre literatura. Tornou-se também o primeiro empresário negro do País e deu início ao movimento editorial brasileiro. Com o advento de seu bicentenário, o editor ganha exposição com parte de suas obras em São Paulo.

Essa redescoberta de Paula Brito apenas tenta reparar mais uma injustiça quase histórica. A mostra apresenta elementos que permite melhor entender os caminhos percorridos através das letras impressas no Brasil. As marcas deixadas por Paula Brito estão em seus jornais, obras que produziu ou patrocinou ou ainda como precursor do conto nacional. Ao olhar para ele se tinha a impressão de fitar apenas um sonhador. Afinal, o número de leitores no país era muito pequeno. Mas como homem a frente de seu tempo que o era, ele apostou e venceu.
O poeta e senador Francisco Otaviano, os ministros Euzébio de Queiroz e José Maria da Silva Paranhos, Barão do Rio Branco, eram algumas das personalidades que frequentavam sua loja. Depois de sua tipografia viria a paulistana Casa Garraux, em 1870, a livraria B. L Garnier, 1860 e 70, e no final do século XIX a livraria José Olympio Editora, em 1930.

Perfil

Nascido no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1809, era filho do carpinteiro Jacinto Antunes Duarte e de Maria Joaquina Conceição Brito. Desde muito cedo ele enfrentou as dificuldades peculiares da população pobre. Abandonou os estudos ainda cedo para se tornar um 'operário das tintas' tendo executado trabalho como aprendiz na Tipografia Nacional. Seu senso de mercado e de oportunidades compensava sua deficiência escolar.

Em 1827 foi contratado pelo Jornal do Commércio como compositor gráfico. Quatro anos depois, era dono do seu próprio negócio pois adquirira a loja de encadernação de um primo. Em muito breve a Tipografia Fluminense de Brito & Cia tornara-se ponto de encontro de intelectuais e políticos. Em uma de suas tipografias ele abriu portas para um jovem escritor, Machado de Assis, que na época tinha por volta de 20 anos. Durante anos Machado foi colaborador em versos e prosa e publicando livros nos jornais e revistas do já velho editor.

Em 1832, redige e publica " A Mulher do Simplicio ou A Fluminense Exaltada, jornal que de forma pioneira, busca atrair o público feminino. Em setembro de 1833, lança o periódico O Mulato - O Homem de Cor. O jornal durou apenas dois meses, mas neste curto tempo abriu espaço para pessoas negras. Devido sua posição contrária a escravatura, não foram poucas as tentativas de embranquecer Paula Brito. O preconceito não impediu que ele se tornasse o livreiro preferido da elite carioca e o principal editor de sua época. O editor faleceu em 15 de dezembro de 1861.

Em sua loja reuniam-se Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Araújo Porto-Alegre, Laurindo Rabelo entre outros. Os romancistas Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio de Almeida, o compositor Francisco Manuel da Silva, autor da música do hino nacional brasileiro, deixou uma composição em parceria com Paula Brito " A Marrequinha de Iaiá". No total, Francisco de Paula Brito lançou 372 publicações, 214 obras de ficção, 100 dramas, 43 óperas, 47 traduções do italiano e do francês e 24 edições de autores brasileiros.
Entre os autores brasileiro, ele lançou o primeiro romance " O Filho do Pescador", de Teixeira e Souza, 1843. Últimos Contos, de Gonçalves Dias, 1851. Também lançou as primeiras peças de teatro legitimamente brasileiras como Antônio José ou O Poeta e a Inquisição; A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, em 1857. Admirado por sua força de vontade para investir em autores brasileiros, Dom Pedro II, tornou-se acionista de sua tipografia, Dois de Dezembro, inaugurada em 1850. Paula Brito alcançou sucesso ao publicar seus contos nos jornais " O Enjeitado" e A Mãe-Irmã. MAIS sobre centenários em http://www.formasemeios.blogs.sapo.pt/

Exposição

A exposição Francisco de Paula Brito - 200 anos, apresenta 199 obras produzidas nas oficinas do histórico editor entre as quais 37 volumes raros da coleção Brasiliana. Painéis, imagens do cotidiano e capas de jornais dão o tom romântico de um Rio de Janeiro que deixou saudades. A exposição fica em cartaz até o começo de maio de 2010, no Museu Afro-Brasil, no Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP.

Nenhum comentário: